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PAISAGENS DA MEMÓRIA

Texto elaborado pelo crítico e curador Cauê Alves para a exposição Paisagens da Memória realizada em Junho de 2003 no Paço das Artes, 2003 – 2004.

O projeto Paisagens da Memória de Ana Michaelis forja lembranças de horizontes que dificilmente vimos, mas que se tornam tão atuais quanto nossas remotas recordações. Essa atualidade é efêmera, pois o tempo em seu trabalho é compreendido como um elemento veloz que apaga e liquida as imagens da memória.


Partindo de fotografias enviadas por amigos, do olhar do outro sobre a natureza, a artista realiza pinturas de paisagens em preto e branco com fortes contrastes. Em seguida, uma camada de tinta branca vela a pintura precedente, transformando-a numa imagem rarefeita, prestes a desaparecer. A tela final nos traz uma lembrança que não era nossa, fazendo com que um passado anônimo coexista com o nosso presente. O procedimento de sobrepor camadas de tinta que se interpenetram e enfraquecem as figuras reforça a continuidade e a passagem do tempo, que não pode ser representado por instantes independentes. 


Se à primeira vista temos uma tela branca ou uma cena congelada, aos poucos, numa sucessão contínua, a imagem surge e se esvai. Nessas obras, a ausência da figura humana e a interferência mínima do homem na paisagem podem sugerir uma atmosfera atemporal, mas essas pinturas alvas deixam o próprio movimento do tempo se mostrar.

Cauê Alves,

Junho de 2003.

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