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DIÁLOGO DE MEMÓRIAS

Texto elaborado por Ziel Machado para a exposição Obras Recentes realizada em 2013 na na ArtLounge Galeria, Lisboa, Portugal.

Existe um lindo poema na tradição judaico-cristã que diz: ”Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite. Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz. Mas a sua voz ressoa por toda a terra, e as suas palavras, até os confins do mundo”.


Este poema me veio à mente quando pela primeira vez fui exposto as pinturas de Ana Michaelis. Assim como a natureza nos comunica algo, sem fazer uso da voz, cada paisagem retratada é um convite a um olhar mais atento, a uma percepção mais ampla da realidade representada. Ainda que sem palavras, somos convidados a um diálogo profundo, a uma conversa entre memórias, aquelas que trazemos conosco e aquelas que nossos olhos nos apresentam. A imagem rarefeita pode nos sugerir algo que está por esaparecer, mas também pode nos indicar algo que ainda não foi visto de forma plena. Num mundo de tantas certezas, este diálogo de memórias nos recorda que há sempre algo ainda por ver, algo que se possa entender de forma mais profunda. 


A velocidade, como uma característica de nosso tempo, impõe determinadas dinâmicas de percepção da realidade que desafiam nossa capacidade de processar cada informação recebida. Às vezes nem nos damos conta do volume de informações que recebemos no cotidiano, mas de alguma forma, nossa memória retêm algo daquilo que passa rápido pelos nossos sentidos de percepção da realidade. O que a velocidade de nosso tempo apaga de alguma forma, pelo menos em parte, nossa memória registra. As pinturas de Michaelis nos convida para encontros e reencontros, para uma revitalização dos sentidos, de forma que, o que parece estático recobra uma nova dinâmica e nos permite desfrutar, uma vez mais, da vida contida na memória.

Ziel J. O. Machado 
São Paulo, abril de 2013.

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