ARTISTAS RECRIAM MEMÓRIA PAULISTA NA CASA DO TATUAPÉ
Texto elaborado pelo jornalista Roberto Pinto para a exposição Ato Contínuo realizada em 2018 na Casa Tatuapé, São Paulo.
A Casa do Tatuapé (Rua Guabijú, 49), feita de taipa, no Séc. XVII, é uma das poucas edificações que sobreviveram à avalanche de progresso que sucedeu seus primeiros moradores, os bandeirantes, na Capital. Também tornou-se um dos raros espaços civilizatórios fora do circuito artístico e cultural da cidade. Por isso mesmo, chamou a atenção de seis artistas plásticos que visitaram o lugar e dele fizeram sua morada, por algumas semanas, em busca de inspiração para a mostra que recria a memória da cidade, e que vale a pena ser vista, neste mês que celebra os seus 464 anos.
A alma do casarão, materializada em registros de seus sucessivos habitantes e elementos naturais encontrados nas redondezas, especialmente o barro e as pedras, mas, também, objetos, madeira e fotografia produziram um recorte artístico e cultural que nos convida a refletir, por exemplo, sobre a versão oficial da História das Bandeiras com a instalação Tocaia, de Reynaldo Candia.
Recortes de jornais, terrários e tela de Patrícia Furlong, em outra sala, ilustram o caminho das formas de morar na grande cidade, ao longo dos séculos. As viagens, no tampo e na forma, estão representadas no velho baú construído por Adriana Rocha. Cenas de antigos habitantes pintadas por Ana Michaelis em lâmpadas de gesso refletem a paisagem humana do lugar, anos atrás.
O passeio também inclui telas de acrílico sobre metal espelhado e sobre vidro de Celso Orsini, que recriam os recortes, espelhos e camadas em nossa memória e os desenhos e projeções de Cris Rocha sobre o mundo que podia ser visto pelas portas e janelas do antigo casarão. São muitas atrações, mas nada que possa ser descrito simplesmente com palavras. Vale a pena ver de perto.
Roberto Pinto
São Paulo, dezembro de 2018.